quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Onde você está...



Fechei os olhos, pequenas gotas resplandeciam a luz das velas...
Suas cartas jogadas ao chão...
Seu rosto estava distante em minha memória...
Instantes imaginários encontravam-se no registro das lembranças...
Dedilhava meus lábios, sentia sua falta...

Dois mundos separados, distintos neste imenso universo...
Saí rumo ao nada, rumo à noite latente...
As estrelas brilhavam na total escuridão da vida...
Refletindo suas luzes nos orvalhos cristalinos das pequenas folhas nos galhos...

Olhei para o céu e implorei...
Era um vazio inigualável, um espaço oco que pulsava uma tristeza desnorteada...
Emaranhada em meus próprios pesadelos inquietos, solucei...
Deitei envolvendo meus joelhos contra o peito...

Desamparada, chorava silenciosamente...
Estava sozinha, gritando aos Deuses, rugindo, gemendo...
Éramos dois seres girando...
Sem sairmos do lugar, sem nos separarmos ou nos aproximarmos...
Pálida, sufocada, apaixonada... Entreguei-me ao vento...
E, com ele, transportei-me até você!
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Imagem: Mel Gama

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sonhos... Realidades...

Sentia-me aliviada por ter encontrado um lugar de terra firme... Afinal passar dias a fio em alto mar perdida, solitária, não tinha sido uma experiência meramente agradável. Estava em uma ilha que parecia nunca ter sido visitada por humanos, como se fosse um pedacinho oculto em uma imensidão de vida. Ela era impecável, maravilhosa. Tinha uma areia fofa de cor super branca... Deslizavam sobre meus pés, imergindo-os em um confortável tapete. As árvores eram demasiadamente grandes e tinham tons fortes de verde. As águas eram azuis, claras e límpidas que reluziam cores, esverdeadas e quentes, ao espaço devido aos raios brilhantes do Sol; um arco-íris tocável. Os sons eram incríveis, uma mistura de pássaros cantando alegremente ao vento, as ondas colidindo com rochas negras e robustas no mar, o chocalhar das folhas, enfim... Porém se reparasse por trás de todos os lindos sons, o silêncio invadia meus tímpanos. Era um silêncio absoluto, uma calmaria extrema, um vazio, um nada.
Olhei ao meu redor e fiquei espantada ao ver o tamanho daquele acumulo de terra perdido no oceano. Era como se cada um dos meus passos nas partículas rochosas sob meus pés, fossem minúsculos furinhos imperceptíveis meio a uma grandeza. Adentrei na mata, vasculhando sem saber o que queria. Logo me encontrava em uma trilha natural e estreita, seguindo-a como se fosse meu guia. Galhos e espinhos laminosos cortavam minha pele. Quanto mais eu prosseguia, mais escuro ficava. As copas das árvores tapavam o Sol a medida que chegava ao coração da ilha. Os ruídos tornavam-se assustadores, gemidos da natureza arrepiavam-me. Num piscar de olhos, a trilha desapareceu num espantoso clarão que, por frações de segundos, cegou-me. Quando retomei a visão, eu estava em um espaço aberto, como se fosse uma falha na floresta, rodeado pelas maiores árvores que tinha visto até aquela hora. Lembravam-me seguranças esperando algum intrometimento. Ali, havia imensas tartarugas que se arrastavam sobre o chão úmido, umas entre as outras, como se nada pudesse as impedir. As maiores deveriam ter pouco mais de 1,5 metro de comprimento e cerca de 1 metro de largura. Eram como monstros gigantes escondidos sob árvores guardiãs; seres sagrados preservando sua exuberância ao mundo.
Fiquei observando o entardecer na beira de um lago prodigioso que encontrei um pouco mais à frente - depois da barreira das árvores - meio a um campo aberto. O negro do céu azul vinha chegando descolorindo toda a água reluzente de multicores. Uma paisagem esplendida de águas cintilantes. Pude ver uma família de um tipo de ave aglomerados em seus bandos, emitindo belas melodias. Saciei a minha sede que era como fogo desidratando cada parte do meu corpo. Dei alguns mergulhos no imenso lago, refrescando o calor de meu corpo e, ao mesmo tempo, tomando-me pelo frio. Com os olhos fechados, imersa nas próprias fantasias deixei-me cair à margem do lago e olhei para o céu estrelado. Nunca tinha o visto assim. Pensei nas coisas belas da minha vida, nas coisas que nunca tinha tido tempo de apreciar. Passei horas a fio mergulhada em pensamentos, então adormeci.
Ao despertar, me dei conta de que tudo ia sumindo vagarosamente, estava ficando tudo distante, como se as imagens fugissem de mim. Então o sinal tocou indicando a próxima aula e percebi que tudo aquilo era um sonho. As belas imagens da magnífica ilha ao oceano, reproduziam-se defrontes meus olhos. Levantei-me, e voltei para a realidade...


Imagem: Nuno Rodrigues – Mar de fadas

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Nas montanhas...




Ele andava procurando por alguma coisa enterrada no chão de algodão
Algo brilhante, entalhado perfeitamente... Algo mágico...
Lá no final da gravura de nuvens prateadas, viu um ponto luzir intensamente...
Achou-a.
Encontrou o rosto belo de menina...
Uma menina de cristal, como um diamante lapidado cuidadosamente...
Seus traços fortes e perfeitos... Sua expressão congelada...
Acariciou-a levemente, fazendo-a dilatar os pulmões com um ar úmido e gelado...
O vento sacudia seus cabelos fazendo-os dançar ao espaço...
Deslizavam pelo tapete fino de gelo branco sob seus pés...
Lançavam-se de encontro à montanha mais longínqua...
Davam passos num ritmo qualquer,
Resvalavam-se sobre um lago intacto,
O destino pouco importava...
Voavam para algo maior, algo muito mais além da vida... Além da imaginação!


Imagem: Autor Desconhecido.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Distância...


Entre a fina linha de imagens que conseguia enxergar, vi teus olhos...
Límpidos, serenos, brilhantes... Profundos!
Pequenos cristais cuja mensagem era inconfundível.

Acordei com um suspiro de angústia,
Os sonhos me atormentavam enlouquecidamente...
Ao exílio de minha alma vi você partir...
Na distância, como dois pássaros voando tristemente em direção contrária.

O desespero latejava em minhas veias...
Abundantes gotas cintilantes pendiam sobre meu rosto.
Entre soluços e gemidos, gritava silenciosamente o seu nome.
Não podia tocá-lo, senti-lo, amá-lo...
Agora, eu era apenas um ser solitário.

Caminhava aos ventos sombrios, uma vida deixada para trás...
Uma chance, um divino destino consagrado a todos...
Ajoelho-me a um canto e espero, submersa num mar de aflição...
Um fantasma turvo...
A espera de mais uma oportunidade de emergir a imensidão da vida!



Imagem: Mark Ryden (Ghost Girl)

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Sou...



Sou menina de idéias latentes,
Sou menina de gotas marcantes ,
Sou menina de olhos calados,
Sou menina, cristal cintilante...

Sou mulher de corpo sereno,
Sou mulher, uma esfinge singela,
Sou mulher de lúcido ser,
Sou mulher cuja arte é viver!






Imagem: Desconheço o autor.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Um homem...

Em um dos primeiros dias de outubro, em São Paulo, antes do entardecer, um homem viajava a pé. Tinha a aparência suja, muito encardida. Seria difícil encontrar alguém com aspecto mais estranho e triste, com seus olhos fundos e sem vida. Era cabeludo, de pele marcada por ferimentos infeccionados por todo o corpo. Parecia ter de 28 a 33 anos. Sua camisa era de linho, meio amarelada por causa do suor e da sujeira. Sua calça era de moletom bem rala, na cor verde, porém manchada. Nas costas, trazia uma bolsa improvisada com um saco, onde deveria ter um lençol para dormir e, talvez, algum objeto que tilindrava quando o homem andava, fazendo todos da rua desviarem o olhar para observá-lo. Trazia na mão metade de um terço, branco e dourado, provavelmente para ter uma fuga nos seus dias de agonia. O suor e o pó da estrada tornavam a sua aparência cadavérica, repugnante, quase que como um zumbi, que andava sujo e sem rumo com a esperança de, um dia, se tornar um “humano”.
Perambulava pelas ruas da imensa cidade, perdido. Seu olhar voava ao longe, no infinito, como se buscasse alguma coisa que não pudesse enxergar. Sentia medo, e vira e mexe encontrava-se em algum canto chorando, sozinho, suas mágoas da vida. Entre soluços e suspiros ele dava passos largos, e sempre um passo a mais, como se estivesse fugindo do passado indesejável que o perseguia. Sem olhar para os lados, sem se preocupar com o inevitável ele, lamentavelmente, seguia seu caminho rumo ao mundo desconhecido. As pessoas o temiam, apertavam fortemente as bolsas douradas e as malas de couro contra os braços; abaixavam os olhos ranzinzos, e, às vezes, olhavam nos olhos do homem que eram como janelas abertas para imensidão de desavenças dentro de si.
Todos os dias o homem observava o anoitecer, olhava aquele pôr-do-sol que cintilava nas nuvens. Pinceladas de vermelho e amarelo davam um tom alaranjado como fogo e ao mesmo tempo rosado como o amor, enquanto lá no fundo a escuridão vinha chegando, engolindo para as trevas, com suas cores negras e obscuras, qualquer coisa que estivesse sob ela. E ele sabia, sabia que chegara a hora que temia com todas as minúsculas células de seu corpo. Seu coração pulava em saltos, disparando o desespero, seus olhos diminuíam parecendo duas jabuticabas pequeninas. No fundo uma criança apavorada, com medo de seus próprios sonhos, seus próprios pesadelos, receando até ele mesmo. Adormecia. O lençol dilacerado que exalava mau cheiro, envolvia-lhe o corpo que tremia a cada brisa gélida; brisa que parecia facas pontiagudas penetrando leve e firmemente suas entranhas.
Ele sabia que seu destino estava perto, seu propósito divino estava tão perto que quase podia sentir seu cheiro. Caminhava e caminhava, aonde quer que estivesse. Seus pés formavam calos que transbordavam sangue de amargura. Perguntava-se há quanto tempo andava olhando sempre para o horizonte, encarando algo que desconhecia.
Um dia uma criança de rosto rosado, de cabelos finos e castanhos que adejavam ao ar, de olhos angelicais, viu-o chorar. Trouxe-lhe um pequeno pedaço de chocolate que estava comendo e ofereceu-o ao homem. Depois lhe deu um abraço apertado e quente e disse-lhe “Deus lhe abençoe moço”. Tudo vai dar certo, é só confiar”.E com um belo sorriso, daqueles radiantes, virou-se de costas e foi embora parecendo um anjo iluminado com os raios lançados do Sol brilhante. O homem levou a boca o pequeno chocolate saboreando-o devagar, sentindo o açúcar no sangue, aquela sensação de alegria. Uma calmaria rodopiava em seu corpo, e as palavras do seu anjo na mente vazia, davam-lhe força.
Chegava o anoitecer novamente, mas dessa vez ele não o temia, ele apenas queria observar as estrelas pequeninas que cintilavam no céu. Queria apreciar o quanto o mundo é cheio de maravilhas. Fitava os pássaros livres e encantados, o céu escuro mais radiante, as estrelas que reluziam quase que piscando, a lua enorme que lhe envolvia os olhos, o chacoalhar das árvores e lá longe o cheiro delicioso de um chocolate quente que inundava-lhe as narinas.
Ao amanhecer o homem não se encontrava mais ali, pelo menos não de espírito. Havia largado seu corpo em um chão qualquer, pois descobrira-se preparado para deixar o sofrimento e exaustão; havia aprendido diversas coisas que poucos seres humanos tinham o prazer de aprender; havia cumprido sua missão na terra e chegara a hora de encontrar o seu destino.
Essa é a história de um homem que andou por ladrilhas e caminhos severos por toda a sua vida, mas que viu maravilhas que ninguém nunca conseguiu enxergar. O homem que caminhava rumo a um destino oculto, um destino que não podia ver nem sentir, mas que sabia que o reconfortaria seja lá o que fosse. Um anjo, um destino, e uma busca pelo que ele poderia não saber, mas nós sabemos... A felicidade!


Imagem: Desconheço o autor